quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Eu sei, mas não devia


Marina Colasanti

Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.

A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.

A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.

A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.

A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.

A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagar mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.

A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.

A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.

A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.

A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Viva a república das bananas!

Chiquinho foi o nome escolhido pelo vô Jeremias para o sagui que foi morar no sítio. Vindo sabe Deus de onde, Chiquinho vive solitário em meio à vegetação, no entorno do rancho, se é que o "agarra-agarra" com os esquilos, jacus e galinhas pode ser considerado solidão. O fato é que não há outros saguis por ali, para alívio dos passarinhos que podem procriar em paz. Graças a Deus o bando de saguis mais próximo que se tem notícia, do qual talvez Chiquinho tenha se desgarrado, está a uns oito quilômetros de distância.


Chiquinho, como qualquer macaco que se preze, não resiste ao acinte de uma banana madura e desce rápido tronco abaixo para provar o pitéu.

Alameda das amoreiras!

Sábado iniciamos o plantio das mudas de frutíferas no sítio. Plantamos um corredor de amoreiras para formar um túnel até a entrada da mata. Em breve, se Deus quiser, haverá abundância de amoras para os pássaros e outros bichinhos, para geléias e sucos, para emporcalhar as solas dos calçados...


Na área destinada ao pomar já foram plantadas algumas mudas de cítricos. Caqui, mangostão, graviola, araçá e cidra aguardam para entrar na terra no próximo sábado.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Devagar e sempre.

Embora o nosso cronograma esteja meio aleatório, aos poucos a construção dos banheiros vai tomando forma. Pelo planejado já deveriam estar prontas as paredes, pelo menos na altura da laje, mas as coisas vão no passo do gado, que sempre chega lá.

Em breves dias, esperamos, o andaime deverá ceder lugar a um fogão a lenha, um balcão e uma pia. Da pilha de madeira tratada que descansa debaixo da laranjeira se farão as tesouras do telhado, e uma mesa de três metros aguardará a polenta do almoço inaugural e uns "pães de texto" para o café da tarde.

A vegetação nativa ao fundo será preservada, mas as espécies não nativas e invasoras serão substituídas por mudas de cravo, canela, urucum, louro, tamarillo e outras espécies aproveitáveis nas panelas.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Laranja em calda à vista

O final de semana foi divertido e proveitoso: o primeiro nível das paredes dos banheiros ficou pronto. Mais dois finais de semana trabalhados e as paredes deverão estar prontas para receber a laje.

Se Deus quiser, os passos seguintes, enquanto o concreto da laje estiver curando, deverão ser o fogão a lenha e, por fim, a instalação da parte hidráulica dos banheiros e o telhado.

É realmente uma pena que a atual safra de laranja-da-terra (Citrus aurantium) não vá alcançar o fogão a lenha em funcionamento. Na próxima safra não haverá desculpa!

O sagui também já enturmou, e quando o pessoal entra no rancho e sai do alcance da vista, ele não consegue conter a curiosidade e chega a descer da árvore para espiar pela porta, mas sobe logo que alguém aparece: seguro morreu de velho!

domingo, 11 de julho de 2010

Novo frequentador

Aos poucos, novos habitantes vão aparecendo e ocupando seus espaços.

Este sagui de tufos brancos (Callithrix jacchus), quando aparece, toma conta de toda a comida e afugenta os esquilos e jacuaçus.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Afinal, não são jacutingas!

A gente achava que eram jacutingas, mas na verdade são Jacuaçus (Penelope obscura).

http://www.wikiaves.com.br/jacuacu

Agora já são cinco frequentando o "restaurante".

A da foto é uma fêmea.

Pequenos comilões

Hora do lanche!

Seis esquilos (Sciurus ingrami) estão se alimentando e plantando sementes ao redor do rancho.

Ágeis e simpáticos, são também conhecidos pelos nomes de serelepe e caxinguelê.

Mil e duas utilidades

Depois de ler o post da aula das galinhas, no imperdível blog Come-se, decidi editar este post para homenagear essas criaturas simples, que não nos dão de bom grado, mas nós extorquimos sua carne, ovos, vísceras, penas, esterco, seu trabalho de controle de pragas, limpeza de ervas daninhas etc.

A compensação fica por conta das mudas que elas destroem sem piedade. Não à toa, a horta vai ficar do outro lado do rio.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Quantos ovos esta cestinha já carregou?

A cestinha do vô Sylvio com a produção.

Editei para dizer que em meados de julho foi feita a contagem dos ovos desta safra, que o vô Jeremias, herdeiro da cestinha, anota todos os dias: 1060!

Agora já passam de seiscentos por mês!

Sabe Deus, no tempo do vô Sylvio, quantos ovos já foram recolhidos com ela.